segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Casos Reais

“Tenho um rendimento mensal de 685€. Ou seja, para a taxa de esforço ser inferior a 40%, a minha renda teria que ser inferior a 274€... Mas querem que eu viva num palheiro? Ou querem que viva a 50 Km do local onde trabalho? Mas atenção, se eu recebesse 1000€ mensais então já teria acesso ao subsidio! Olha que grande treta, se eu recebesse 1000€ não precisava do subsidio! Este país é realmente uma anedota e cada vez mais lamento aqui viver.” Marco

“Sou jovem solteiro, a viver sozinho e bolseiro de investigação. Tenho tido apoio do IAJ desde Agosto de 2006 e com este novo programa perco por completo o apoio no próximo ano sem hipótese de recandidatura. A única hipótese para actuais beneficiários é candidatarem-se nesta fase (2007), tal não me é possível porque tenho renda acima da RMA, em Almada, e além disso o apoio que poderia eventualmente ter desce brutalmente. Ainda assim, seria apenas válido por um ano (até dezembro de 2007) e sem qualquer hipótese de recandidatura. Os jovens bolseiros de investigação vivem uma situação bastante precária (sem subsídios de natal, férias ou quaisquer direitos do comum trabalhador) e o IAJ era a única solução, como aliás acontecia com milhares de jovens noutras situações precárias.” João

“Sou profissional de saúde, acabei o curso ha 2 meses e como tal, o local de trabalho ficou aquem da residência fixa (pais)...e por isso... vim residir para perto do local de trabalho. Como disse, sou profissional de saúde e trabalho a recibos verdes e na realidade só tenho ordenado, quando tenho doentes e no qual ainda tenho de fazer a distribuição de percentagens de lucros para a entidade onde trabalho! assim sendo, o meu ordenado mensal, é sempre incerto podendo ter meses lucrativos como outros inferiores a 50€. na esperança de esperar pelo comprovativo de IRS, pensei que pudesse candidatar-me ao arrendamento jovem. No entanto, a minha dificuldade (...) é, que se na eventualidade de até arranjar um apartamento por 220€(impossivel !!!) mesmo assim, nao poderia ser-me atribuido o arrendamento porque, o meu ordenado é incerto e fazendo uma média não é superior a 220€mensais. A minha esperança, acabou de "falecer"...!!!!” Francisca

“Realmente os RMA’s são uma irrealidade neste país. No Algarve, onde resido, com um RMA de 220€ até T1, é para rir. Gostava que me ajudassem a encontrar um apartamento por esse valor mensal!! Pago mais que 220€ SEM CONTRATO, para variar, porque contrato é outra irrealidade. Digo-vos que menos de 300€ com condições mínimas é RARO, pelo menos na zona de Portimão. Ora como a minha família está toda em Almada, não posso ir para casa dos pais. Desta forma, só me resta contar os tostões até ao final de cada mês, pois ter apoio financeiro (Porta 65) até aos 30 anos acho que também é e será uma irrealidade.” Diana

“Eu estou a viver com a minha namorada em Famalicão e estamos em grandes apuros com este novo programa de apoio ao arrendamento. (...) Os números de informação indicados no Portal da Habitação não estão a funcionar de forma adequada a esclarecer devidamente os jovens. O número de informação do Instituto Português da Juventude apenas está habilitado a prestar esclarecimentos básicos em relação aos procedimento de candidatura (como é compreensível). No entanto, e isto é absolutamente inadmissível, o número do Instituto Português de Habitação e Reabilitação Urbana, que estaria naturalmente vocacionado a esclarecer todas as dúvidas relacionadas com o programa Porta 65, está pura e simplesmente desactivada e não existe data prevista para que esteja em funcionamento. Assim é impossível.” Pedro

“Increvi-me em Maio e ainda em Setembro liguei para a linha de atendimento e me disseram que teria de esperar mais uns dias para receber a carta em casa!!!! (ao dia de hoje ainda nem sequer a tenho). Apenas depois de uma reclamação por e-mail, visto os 90 dias uteis terem expirado, é que me foi enviada resposta a dia 18/09 com o seguinte: as candidaturas que não obtiveram aprovação até à data de entrada em vigor do mesmo, já não serão abrangidas pelo IAJ, tendo que transitar para o novo programa Porta 65 Jovem. Até lá terá de aguardar a recepção de um ofício em sua casa a dar-lhe conta do destino do seu processo.
Depois de ler isto fiquei revoltada já que como todos aqui estava a contar com este apoio (vivia sozinha).
Telefonei para a técnica que me enviou o mail a requerer explicações. Pouco me soube dizer a senhora. Fiquei apenas com a ideia que não ia ver apoio nenhum... A minha renda era de 400 euros (T1 Grande Lisboa) - devia estar a adivinhar.
Já mudei de casa. Pago menos mas não tenho contracto nem recibos.
É na margem sul e é um T1 normal. Nada de luxos. Mas não são 220 euros. Quem me dera...” Sofia

"Vivo em Coimbra. Sou beneficiária do antigo subsídio (IAJ), recebendo o valor máximo previsto para esta ajuda (249.90). A Porta 65 obriga-me a que eu concorra ao novo subsídio até 20 Dezembro. Se não o fizer, nunca mais poderei concorrer. Porém, para Coimbra a Porta 65 impõe que a renda máxima para um T1 seja de 220 euros. Como se pode imaginar se eu actualmente recebo 249.90 de subsídio, a minha renda é superior a este valor. Na verdade, a minha renda é de 350 euros/mês. Assim sendo, estou impossibilitada de concorrer à partida ao novo subsídio... E não concorrendo agora, nunca mais posso concorrer! Fica a pergunta... Se eu até este mês recebia o valor máximo do subsídio, estando por isso no grupo dos mais necessitados, como é possível que eu amanhã não tenha, de forma alguma, direito a nada?" Susana

"Sou independente e moro sozinha num T2 com o valor de 400 euros no Algarve desde 2005, porque na altura foi a única casa que encontrei disponível, se não fosse o apoio do IAJ nunca teria feito tal coisa porque recebo apenas 570 euros de salário, mas com a ajuda valia a pena arrisquei. Só para receber uma certidão da Junta de Freguesia de Loulé demorou 4 meses, depois o processo 3 meses, ia agora este mês renovar o processo quando vi as noticias sobre o cancelamento na televisão, ainda tinha direito a 3 anos mais, recebi uma carta do IAJ há uma semana atraz datada do 08/11/07 a avisar a alteração, (quer dizer um mês depois). Portanto fiz um sacrifício de manter o apartamento os 7 meses sozinha, reduzi a minha conta poupança a zeros para agora ter que ser obrigada a arranjar alguém para dividir as despesas comigo ou vou ter de me mudar e até lá não tenho apoio nenhum. Mesmo que o contracto fosse alterado para 360 Euros a taxa de esforço excluía-me novamente.
E ainda mais a linha do PORTAL 65 ninguém atende, desisti de telefonar, enviei emails para o Governo, IHRU, Porta 65 sem nenhuma reposta. Isto foi uma maneira calculista do Governo de acabar de vez com o apoio aos jovens, o Portal 65 é apenas uma ilusão para enganar os média (por pouco tempo espero), só quem está dentro do assunto é que sabe o quanto ridículo e quase impossível de aceder isto é !" Vânia

"Sou a Susana, trabalhadora estudante, arrendatária de uma casa na ribeira do Porto, e beneficiária do antigo iaj. Ganho com o meu salário de bailarina 650 euros, note-se a recibo verde, dos quais 152 euros vão para a segurança social ou deveriam... mais os impostos. Pago propinas como estudante de gestão do património 1000 euros anuais. A renda de minha casa é de 325 euros. Um preço bastante baixo para a actual situação imobiliária no Porto, não? Pois foi uma sorte encontra-la.
Hum não quero ensinar ninguém a fazer contas...mas é fácil de constatar que se não fosse o antigo programa do iaj estaria em maus lençois ou não sei onde, e não quero saber (sim é verdade, não tenho o apoio dos meus pais, tal como muitos dos jovens portugueses uns porque não os têem, outros e muito bem, pelo direito à sua independência).
Com o actual Porta65 não terei direito a ajuda (se assim podemos chamar), mas notem: quem ganhar mais do que eu vai ter direito ao novo subsidio! Curiosa injustiça.
Ora vivemos num pais de estado social, e é o meu orgulho! Ou era. O pior é fingir que esse nosso estado é solidário, ou pior ainda, esse mesmo estado apelar que é solidário quando na realidade...não cuida dos que mais precisam. Ai! E ainda pior, entala-os mais.
Fazendo um exercício de imaginação “se eu mandasse” os jovens sairiam em massa do pais e só voltariam quando a verdade e a justiça estivesse reposta. Imaginem...Alguém teria que recuar." Susana